Criopreservação de sêmen para pacientes oncológicos
Há algum tempo atendi a um jovem casal que pensava em ter filhos. Estavam preocupados porque Carlos, o marido, teve um linfoma aos 17 anos e foi tratado com quimioterapia. O ginecologista de Regina, a esposa, tinha informado a ambos que talvez o tratamento pudesse ter afetado a fertilidade de Carlos.
Foi então realizado um espermograma e veio a triste notícia: não havia espermatozóides no esperma de Carlos. Alguns tipos de quimioterápicos e mesmo a radioterapia podem afetar os testículos de até 50% dos pacientes que são tratados, levando a diminuição ou mesmo à interrupção da produção de espermatozóides. Alguns, conseguem recuperar essa produção após algum tempo, enquanto outros pacientes evoluem como Carlos, tornando-se inférteis.
O que fazer para preservar a fertilidade?
Por isso, é cada vez mais comum o congelamento de esperma ou sêmen, antes da realização dos tratamentos quimioterápicos. Geralmente, os oncologistas discutem este assunto com o paciente e a família, sugerindo esta medida de proteção.
O processo é relativamente simples. O paciente colhe em média três amostras de sêmen, por meio de masturbação e os espermatozóides são colocados em uma solução que os protege sob uma temperatura de 196ºC negativos. Nesta temperatura, a sua sobrevivência é praticamente ilimitada. Em animais já se utilizou, com sucesso, sêmens que foram congelados até 40 anos antes da fertilização.
É bom ressaltar que a experiência com criopreservação de espermatozóides humanos e animais é muito grande e esta prática não aumenta de maneira alguma o risco de malformações nas crianças geradas com sêmen congelado. A utilização do sêmen congelado é bastante simples: faz-se uma inseminação na parceira, no momento da ovulação.
O congelamento de sêmen é recomendado em quais situações?
No caso de Carlos, o tumor era bastante grave e a família procurou iniciar a quimioterapia o mais rapidamente possível. Muitas vezes, o drama do câncer em um adolescente faz com que discussões deste tipo fiquem para um segundo plano, mas deve-se levar em consideração que os tratamentos oncológicos estão cada vez mais desenvolvidos, fazendo com que um grande número de pacientes sobreviva e mais tarde possa se arrepender que uma medida relativamente simples não tenha sido tomada para preservar sua fertilidade.
O congelamento de sêmen também deve ser considerado em outras situações. Entre elas, trabalhadores de profissões que podem colocar em risco a fertilidade, como mergulhadores de grande profundidade, pessoas que trabalham em usinas nucleares ou produtos químicos.
Homens que vão se submeter à vasectomia e não estão completamente certos sobre o desejo de ter mais filhos no futuro, também devem fazer esse ' seguro', deixando sêmen congelado.
A criopreservação de sêmen pode representar, em algumas situações, a única possibilidade de um homem vir a ser pai e evitar o sofrimento pelo qual Carlos e Regina estão passando.
Nos tópicos a seguir, vou responder algumas perguntas recorrentes sobre câncer e infertilidade:
Os espermatozóides congelados antes do tratamento contra o câncer podem causar algum problema ao bebê?
Não há indícios científicos que comprovem qualquer tendência neste sentido. A medicina reprodutiva já possibilitou milhares de gestações com espermatozóides congelados sob esse contexto, sem taxas incomuns de defeitos congênitos ou problemas de saúde nas crianças. Além disso, vale ressaltar, os espermatozóides coletados antes do tratamento têm a mesma probabilidade de fertilizar um óvulo do que os gametas de homens que não tiveram câncer.
Se eu não preservar a fertilidade antes do tratamento do câncer, terei outras opções mais tarde?
Infelizmente essa não é uma resposta simples e depende de diversos fatores. Entre eles, o tipo de câncer e a cirurgia que foi realizada, sobretudo se ela foi conservadora ou não.
Também tem influência o tipo e intensidade do tratamento escolhido ou, em outras palavras, o potencial risco dos medicamentos (quimioterapia) ou da radiação (radioterapia) comprometerem a produção de espermatozoides e óvulos.
Por fim, ainda é necessário levar em conta a idade do paciente com câncer. No caso dos homens, a grande prevenção da infertilidade nestes casos é preservar o sêmen. É como um seguro. Provavelmente metade dos homens não usarão o sêmen criopreservado porque o testículo pode se recuperar. Porém, os que não fizerem a criopreservação e tiverem a produção espermática alterada (na maioria das vezes ela zera), terão que recorrer a uma biópsia de testículo quando quiserem engravidar a parceira.
Quanto tempo depois do tratamento contra o câncer poderei ter filhos?
A recomendação depende muito do parecer do oncologista que determinará, na maioria das vezes, o melhor momento em relação aos riscos da doença. Em geral, dependendo dos fatores acima mencionados, em média pode variar entre dois a cinco anos para que os pacientes sejam considerados clinicamente curados e assim possam iniciar suas tentativas de gestação.
Fica claro então que tudo vai depender do tipo de câncer, da localização dele e o nível de agressividade dos tratamentos para saber qual é o melhor tempo para pensar em ter filhos.
Isso só deve ser definido após a realização de consultas e exames orientados pelo seu médico.
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Dr. Sidney Glina, urologista, diretor do Projeto ALFA, Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida.
Categoria: Blog
Publicado em: 29/04/2020